segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Carlos Drummond de Andrade

'Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu desejo
de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável, pelo
que me fizeste ontem... A noite era quente e calma, e eu estava em minha
cama, quando, sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo
sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo minha
aparente indiferença, aconchegaste- te a mim e mordeste-me sem
escrúpulos. Até nos mais íntimos lugares. Eu adormeci. Hoje quando
acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão. Deixaste em meu
corpo e, no lençol, provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu
durante a noite. Esta noite, recolho-me mais cedo, para, na mesma cama, te
esperar. Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força... Quero te
apertar com todas as forças de minhas mãos. Só descansarei quando vir
sair o sangue quente do seu corpo. Só assim, livrar-me-ei de ti,
pernilongo Filho da Puta!'

Nenhum comentário: