![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYC-9BywzSqzT_dGrT44eXYyfeG6qQ7mljg4cwGlLlvJfrGTu7l9pwS808mUroXODGPqGdqgWEQXaVoBSIzedgoPPoooCyBC78GUTeY2i53Xf_s6P8sNywhLGZr8LBJyAHmSVn7p-pyN4W/s400/PONEI.gif)
- Alô, Marcos?
- Diga, irmão camarada.
- Rapaz, arranjei um problema sério: o pônei Luís Roberto comeu o meu controle remoto e eu tô desesperado, sem conseguir ouvir nada na televisão. Eu preciso da sua ajuda: narra o jogo pra mim?
- Como assim?
- Assistir ao jogo em silêncio é horrível. Eu adoro a narração, as análises. Nunca perdi uma mesa redonda. E você é bom nisso, sabe fazer comentários engraçados, criar polêmicas. Vai narrando então a partida daí.
- Tá... Ahnn... Deixa ver... Edmílson toca a bola com segurança para Kléberson. Kléberson corre pela lateral e cruza pra Rivaldo, que passa para Ronaldinho, que chuta... E é gol!!
- Goooooooooolllll ! Grita comigo: Gooooooolllll!
- Goooooooooooooollll!
E após este momento mágico do gol, deste súbito e espontâneo orgasmo esportivo, inicia-se uma gritaria na casa do Marcos. Era a mulher dele, metralhando desaforos.
- O que houve, Marcos?
- É a Fafá brigando comigo. Eu acordei a criança na comemoração.
Marcos tentava se desculpar com sua mulher, que continuava gritando, agora em coro com a criança. A bola estava no centro do campo e o jogo ia reiniciar.
- Ô Marcos, faz essa mulher calar a boca! Não está dando pra ouvir nada.
- Não consigo. Ela está muito chateada comigo.
- Seja homem, porra! Manda ela pra puta que o pariu. Mulher chata... Olha para a Fafá e repita comigo "vá pra puta que o pariu, mulher imprestável!"
- "V-vá pra pu-puta que o pariu, mu-mulher imprestável!!"
Nessa hora eu não consegui ouvir mais nada. Gritos, urros guturais, berros, eu não sei como classificar aquilo. Se estivesse vivo, Aurélio Buarque de Hollanda provavelmente pensaria profundamente sobre o assunto e acabaria catalogando aquele som na letra U, sob o verbete "Um barulho aí alto e estranho pra caralho".
- E aí, Marcos? O que está acontecendo? Narra pra mim!
- Tá bem, tá bem. Fafá está gritando comigo. Gritando muito! E ela agora parte em direção ao quarto, lança a criança na cama, revira o armário, enfia minhas roupas na mala, enfia a criança na mala, arranca os cabelos, rola no chão, ouve um choro abafado e tira a criança de dentro da mala, joga na minha cara a velha história da marca de batom no meu colarinho e me faaaaaaz sentir culpado.
- 1 a 0 pra Fafá, Marcos.
- E ela recomeça: parte em direção à área, de onde ela chuta a mala pra fora, pega um rodo e me expulsa de casa.
- Fim de jogo, então. Tô passando aí na portaria pra te buscar.
- Ok.
Apareci na portaria montado no pônei Luís Roberto. E ao me ver, Marcos se aproximou, carregando sua mala.
- Vamos embora. A Fafá ligou para toda a família dela. Ligou até pra minha mãe. Eles estão vindo pra dar apoio moral e conversar com ela sobre a nossa briga.
- Sei... Faz o seguinte: monta no pônei e fica com as chaves de casa. Eu te encontro lá mais tarde.
- E você, para onde vai?
- Vou ficar por aqui mesmo, esperando a sua mãe e a família da Fafá chegar.
- Mas por quê?!
- Bem, você sabe: eu nunca perco a mesa redonda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário